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Arte é usada na promoção da cidadania infanto-juvenil

Seis crianças com máscaras feitas em oficina e duas contadoras de históriasFoto: Divulgação/PBH

Arte é usada na promoção da cidadania infanto-juvenil

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Contar histórias é uma arte. Há muita gente que conta histórias somente por diversão e prazer. Mas há pessoas que, aliando o talento à profissão, fazem da arte de contar histórias uma oportunidade para fazer a diferença na vida de outras pessoas. Carla Márcia Finamore é contadora de histórias e, desde 2015, atua no programa Arte da Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde, com o Ateliê da Cidadania – que oferece 20 horas semanais em oficinas de arte, artesanato, teatro, contação de histórias e brincadeiras para crianças e adolescentes. 
 

O Arte da Saúde é um programa da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Secretaria Municipal de Saúde, em parceria com a Caritas Brasileira Regional MG. É uma prática de promoção à saúde voltada para crianças e adolescentes que buscam o enfrentamento de situações de vulnerabilidade, risco social e/ou pessoal, usando a arte e as diversas expressões como principais ferramentas de promoção da cidadania e do protagonismo infanto-juvenil. Oferece à criança e ao adolescente a possibilidade de atribuir um novo significado à existência, ofertando um percurso pelos caminhos da inclusão social e do exercício da cidadania. Atualmente, são 80 crianças participando do programa na região da Pampulha.
 

Márcia cuida de duas turmas semanalmente. Para ela, o trabalho é prazeroso, mas desafiador. “O programa é para os arteiros e não para os artistas. Identifiquei-me muito com o serviço. Sou privilegiada por estar em um espaço que nos oferece uma estrutura para aprendizado e para desenvolver as atividades. O meu ateliê tem um leque de opções.”
 

A estudante L.S.M., de 14 anos, participou do programa Arte da Saúde há três anos. Para ela, Márcia faz um trabalho importante que influencia diretamente a vida das crianças participantes. “Ela ajuda, aconselha, passa muita segurança. Tudo que você precisa, ela se preocupa em ajudar.” A estudante conta que gosta muito de teatro e que as aulas com Márcia ajudaram-na a vencer a timidez. “Perdi o medo e a vergonha de falar para as pessoas. Hoje, apresento trabalhos dentro de sala aula bem melhor. Já até pensei em fazer aulas de teatro e me aprofundar.” Mas o que mais chamou a atenção da estudante durante o tempo que conviveu com Márcia é o carinho com o qual ela trata as crianças: “Ela tem uma afinidade muito grande com as crianças do (programa) Arte. Faz de tudo para deixar as pessoas que estão lá mais confortáveis.”
 

Parceria

Um dos espaços públicos municipais muito utilizados por Márcia é o Centro Cultural Pampulha, no bairro Urca. A parceria com o Centro Cultural existe há mais de 17 anos. Ali, ela promove atividades de cultura e lazer para a comunidade. Duas vezes na semana, Márcia utiliza o local para as atividades do Arte da Saúde e, na última sexta-feira de cada mês, realiza o projeto “Sexta Cultural”, que abre espaço para as mais diversas expressões culturais, como música, dança, artes cênicas, literatura, contação de histórias, entre outras. 
 

Gerente do Centro Cultural Pampulha, Ramalho Almeida Júnior explica que o projeto fomenta a descoberta de talentos e cria oportunidades para os artistas. “A Márcia Finamore sempre foi uma grande entusiasta do Sarau de Poesias como espaço de expressão da arte e da contação de histórias. Com a expansão da atividade na direção das outras expressões culturais, o projeto hoje abrange um leque bem amplo de manifestações culturais e traz também uma nova característica que é a possibilidade de apresentações autorais que visam também a incentivar os artistas à produção.”

 

Contando histórias 

Márcia começou ainda criança, ouvindo os “causos” que o avô Braz Finamore contava para a família – e, com ele, aprendeu essa arte de encantar as pessoas: “Meu avô tinha problema nas pernas e não podia andar, então juntava os netos e amigos ao redor para contar histórias. Era uma maneira de reunir as pessoas em torno dele.”


Nascida e criada no bairro Urca, região da Pampulha, Márcia é casada e tem cinco filhos. Na família, todos contam histórias, inclusive o marido. A influência para contar histórias de maneira mais profissional veio ainda na infância, por meio de uma vizinha chamada Irani Cruz, que reunia várias crianças na rua para brincar, conversar e contar histórias. “Ela se vestia de palhaço e de outros personagens para alegrar a gente. A comunidade era de muita pobreza. A gente nem sabia o tamanho (da pobreza), mas a Irani não deixava a gente sentir. Eu pensava sempre: vou crescer e ser igual a ela.” 
 

Aos 19 anos, Márcia já era conhecida como “a moça que conta histórias”. Na praça, no campo de futebol de terra, nas casas dos conhecidos ou nas festas, ela sempre tinha uma história para contar. E, assim como a Irani, também pôde influenciar pessoas: “Havia um garoto cuja família tinha muitos problemas. Quando os conflitos começavam, eu o levava para a rua e começava a contar histórias para distraí-lo e alegrá-lo. Hoje, ele é uma pessoa do bem.”
 

Márcia já conta histórias há mais de 20 anos e, hoje, o talento tem caráter profissional, porque atualmente a atividade é reconhecida como profissão. No ano de 2000, ela se tornou oficialmente contadora de histórias, por meio de um curso oferecido pela Fundação Municipal de Cultura, e, em 2016, brincante. Em 2000, Márcia alcançou o 3º lugar em um concurso da Biblioteca Pública Municipal para contadores de histórias, com a história “Eu fico segurando meu nariz”, da escritora Ruth Rocha. 
 

O estudante de jornalismo Davidson Raymond de Almeida Soares, 24, ouvia as histórias de Márcia desde os seis anos de idade. “Cresci na casa da Márcia, pois era amigo dos filhos dela. Uma história marcante pra mim foi a do bicho papão Dum Dum Cererê. Eu morria de medo na época e até hoje tenho a imagem que formei na mente desde quando ouvi a história ainda criança. A Márcia sempre teve um trabalho voltado para as crianças, mantendo um diálogo muito aberto e nos alertando sobre as nossas escolhas. O trabalho dela fez parte da minha formação como ser humano.”

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