Aos 65 anos, Dona Maria Lourdes esbanja alegria, disposição e força de vontade. Logo cedo, ela começa a sua rotina e diariamente, cumpre com o seu compromisso mais importante: cuidar de si mesmo. “Eu preciso me amar primeiro, por isso, eu cuido da minha saúde e nunca deixo pra depois. Se eu pudesse, voltava lá atrás e faria tudo diferente, porque hoje eu sei o quanto isso faz falta”, afirma a aposentada. Cuidar da saúde nem sempre foi uma prioridade, mas após descobrir que é hipertensa, ela ligou um alerta e percebeu que era necessário começar a mudar seus hábitos.
No primeiro momento ela começou com a medicação, mas ainda assim, tinha dificuldade para controlar os picos de pressão. Para ajudar neste processo, Maria Lourdes procurou o Centro de Saúde Urucuia, onde é atendida e, além do acompanhamento com a Equipe de Saúde da Família (ESF), foi encaminhada para o Grupo de Hipertensos. “Depois que entrei para o grupo, posso dizer que muitas coisas melhoraram. Eu aprendi mais sobre a importância da alimentação saudável e da prática de atividades físicas. A gente começa a fazer as coisas pensando no que é melhor pra nossa saúde”, disse.
E é justamente esse o objetivo dos grupos operativos realizados nas unidades básicas de saúde da Rede SUS-BH: orientar e sensibilizar os pacientes quanto a necessidade do acompanhamento e tratamento contínuo, além de promover ações de promoção à saúde e qualidade de vida. A médica generalista e coordenadora do grupo de hipertensos no Centro de Saúde Urucuia, Aline de Souza Gomes, explica como funciona. “Os pacientes são encaminhados para o grupo pela equipe e durante os encontros nós abordamos temas como nutrição, prática de atividades físicas, utilização correta de medicamentos e outros assuntos relativos à hipertensão. O grupo serve também como um estímulo para que o paciente siga corretamente as orientações repassadas pelo seu médico, podendo também compartilhar com outras pessoas suas conquistas durante o acompanhamento”, disse.
Os benefícios do grupo operativo são perceptíveis tanto para os profissionais, quanto para os pacientes que, com o passar do tempo, conseguem identificar a melhora de suas condições clínicas. No Centro de Saúde Urucuia, dos 30 pacientes que iniciaram no grupo, 19 foram certificados com 100% de frequência. Vânia Domingas Porto, de 56 anos, recebeu a certificação. Ela descobriu ser hipertensa aos 38 anos e, além do controle da pressão, a dona de casa também faz o controle de diabetes. Ela confessa que antes, sua preocupação era manter controlado o nível de glicose, mas aprendeu que, justamente por ser uma doença silenciosa, a hipertensão também é motivo de cuidado redobrado. “Hoje eu me cuido muito mais. Tenho até o aparelho para aferir a pressão todos os dias e minha alimentação é muito mais balanceada. Além disso, eu faço ginástica e Lian Gong. Com o grupo eu tenho um incentivo para continuar me cuidando”.
Resultados positivos
Em Belo Horizonte, estima-se que aproximadamente 650 mil pessoas sejam hipertensas. Médico e referência da coordenação do Adulto e Idoso da Secretaria Municipal de Saúde, Sidney Rosa explica o impacto da doença. “Excetuando-se as causas externas, as doenças do aparelho cardiovascular são a causa mais importante de internações em nosso município. Além disso, é bom lembrar que a hipertensão arterial é o fator de risco mais prevalente nos pacientes com insuficiência renal dialítica, estando presente em cerca de 35% desses pacientes, que hoje passam de 2 mil em Belo Horizonte. Além disso, ela favorece outros problemas graves como os Acidentes Vasculares Encefálicos e Infartos Agudos do Miocárdio”, alertou.
Em Belo Horizonte, diversas ações são desenvolvidas para prevenir a doença e garantir a assistência aos pacientes que precisam desse acompanhamento. A principal porta de entrada são as unidades básicas de saúde, onde o paciente é acompanhado pela Equipe de Saúde da Família e, posteriormente, inserido em outros projetos como os grupos operativos, Academias da Cidade, Lian Gong e Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). Além disso, em todos os 152 centros de saúde, a população tem acesso a medicamentos gratuitos para o controle da doença. Esses esforços têm permitido a redução do número de internações. Em 2007, foram 615 internações hospitalares por hipertensão arterial sistêmica. Já em 2017 foram 204 (dados parciais). Os óbitos também reduziram de 610 em 2007, para 370 em 2015.