Uma sala de espera com conforto, cultura e distração. Com a biblioteca “Sonho Meu”, essa é a proposta do Centro de Saúde Tia Amância, no bairro Vila Paris, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. O projeto criado em 2011 no espaço público municipal é uma iniciativa da enfermeira Graça Maria Sartini, que viabilizou a biblioteca doando os próprios livros dos tempos de infância e juventude, além de obras de literatura. Ela também recebeu doações da comunidade para iniciar o trabalho. “Amo ler. Cresci com os livros à minha volta. Tinha um sonho de formar uma biblioteca comunitária e consegui realizar”, comemora Graça.
Mais de mil publicações já passaram pela biblioteca. São romances, policiais, livros didáticos, coleções, enciclopédias e até publicações de Direito, entre outras opções. Tudo à disposição da comunidade, que pode retirar um ou mais livros para fazer a leitura em casa. Segundo Graça, não há uma regra rígida nem um tempo determinado para o leitor permanecer com o livro. “O que eu quero é que a cada dia mais pessoas leiam e se encantem”, explica a enfermeira.
A decoradora Maria Aleixo, usuária da biblioteca, elogia a iniciativa: “Muitas pessoas têm pouca oportunidade de ler. Outras não têm dinheiro para comprar livros. É muito legal chegar aqui e dar de cara com uma biblioteca. Posso ler aqui enquanto espero a consulta ou levar para casa. Quem teve a ideia merece um prêmio”.
O envolvimento com a biblioteca “Sonho Meu” não se restringe à Graça, aos pacientes e frequentadores do Centro de Saúde Tia Amância. Os colegas de trabalho dela aplaudem a iniciativa e fazem questão de doar e também utilizar os livros no trabalho com os pacientes. “Indico os livros que estão na biblioteca para meus pacientes lerem. Depois trabalho nas sessões de terapia”, conta a psicóloga Juliana Scucato.
Agnes Lopes, assistente administrativa do Centro de Saúde, relembra uma situação curiosa. Um homem viu na prateleira o Vademecum, a bíblia do Direito, e pediu para trocar a obra por cinco romances. “A Graça concordou e ele ficou muito agradecido. Explicou que o Vademecum é um livro muito caro e que ele não tinha dinheiro para comprar. A Graça, além de excelente enfermeira, tem um coração enorme”, completa.
“Sou enfermeira porque a vida me levou a fazer enfermagem, mas, com certeza, minha alma é de assistente social”, afirma Graça. Faz sentido. Afinal, sempre de coração aberto para a comunidade, ela disponibiliza para doação os livros didáticos, as enciclopédias e as coleções. “Uma professora de inglês sempre doa livros didáticos. É uma coisa impressionante como as pessoas doam. Todo mundo doa, desde moradores de vilas até o pessoal que mora no Alto Santa Lúcia”, pontua Graça.
Além de romances e literatura, os usuários e leitores também vão à biblioteca buscar publicações específicas. Romero Costa estava procurando um livro que falasse sobre a cidade de Machu Picchu, no Peru. “Vi um documentário sobre a cidade perdida dos Incas e gostei muito das construções, da forma como plantam e da mentalidade do povo. Gostaria de ler mais sobre o assunto e, como sempre pego livros aqui no posto, acho que posso encontrar”, finaliza.
O Centro de Saúde Tia Amância fica à rua Iraí, 248, no bairro Vila Paris.
Por meio da Fundação Municipal de Cultura, a Prefeitura mantém, atualmente, 21 bibliotecas públicas espalhadas por todas as regiões da cidade. Essa rede conta com mais de 150 mil títulos, todos disponíveis para leitura e empréstimos. Além disso, os espaços promovem diariamente atividades de incentivo à leitura, tais como oficinas, rodas de leitura, narrações de histórias, saraus, visitas guiadas, palestras e encontros com escritores.
No ano passado, a Prefeitura realizou a 1ª Conferência Municipal de Leitura, Literatura, Livro e Bibliotecas com o objetivo de debater com a população o Plano Municipal da Leitura, Literatura, Livro e Bibliotecas, que vem sendo construído pela FMC e sociedade civil há dois anos.
O Plano Municipal contempla as bibliotecas e iniciativas públicas e comunitárias neste campo, casas editoriais, escritores, ilustradores, livreiros, bibliotecários, tradutores, professores e mediadores de leitura, em conjunto com o poder público. Elaborado em trabalho coletivo por representantes do poder público e da sociedade civil durante três anos, o documento figura como meta do Plano Municipal de Cultura. Sua elaboração seguiu todas as orientações legais, cumpriu todo o processo recomendado pelo Ministério da Cultura e contou com expressiva participação da sociedade civil em toda essa trajetória.