Uma raposa e um galo, uma mulher com um turbante, figuras humanas comuns e carnavalescas são as novas imagens que colorem as paredes dos arranha-céus do centro de Belo Horizonte. “Achei muito interessante, gostei muito. Realçou a cidade e fiquei encabulada por serem várias pinturas ao mesmo tempo e muito grandes”, observa Vitoria Stephany, que passava, admirada, pela rua Paraná em uma tarde de terça-feira.
O tamanho das imagens realmente impressiona. As quatro empenas – paredes laterais de um edifício, sem aberturas (janelas ou portas) – pintadas nos prédios têm até 50 metros de altura por 37 de largura, o que contribui para que sejam vistas de vários pontos da cidade.
O Circuito de Arte Urbana (CURA) é o segundo festival de arte urbana no Brasil e foi criado há dois anos pelas amigas Ju Flores, Priscila Amoni e Jana Macruz. “A interação do público está sendo muito legal. O dia a dia das pessoas normalmente é estressante e uma cidade cinzenta faz com que os dias pareçam mais sem graça. O CURA proporciona mais cor e mais vida, além do acesso a grandes obras de arte na cidade”, ressalta Jana Macruz, idealizadora e curadora do projeto.
As obras realizadas em quatro prédios de Belo Horizonte foram produzidas por cinco artistas. Marina Capdevilla fez a do Edifício Trianon (rua da Bahia, 905, Centro); Tereza Dequinta e Robezio Marqs trabalharam em dupla no Edifício Tapajós (rua da Bahia, 325, Centro); Priscila Amoni é a autora do trabalho no Hotel Rio Jordão (rua Rio de Janeiro, 147, Centro); e Thiago Mazza realizou a obra do Edifício Satélite (rua da Bahia, 478, Centro). As quatro empenas foram pintadas simultaneamente ao longo de 12 dias.
O resultado do trabalho dos cinco jovens artistas pode ser visto mais facilmente da rua Sapucaí, bairro Floresta, que se tornou o primeiro Mirante de Arte Urbana do Brasil. Jana Macruz explica que a escolha dos locais em que foram realizadas as intervenções artísticas teve como critério a melhor visualização de todas as obras: “O Mirante da Sapucaí é o único local do mundo que tem todas as pinturas voltadas na mesma direção, permitindo que sejam visualizadas ao mesmo tempo.”
Priscila Amoni é a primeira mulher a pintar uma empena da altura de 49 metros no Brasil e se inspirou na figura feminina para realizar a obra. “Trabalho com o poder feminino. Minha pintura é uma mulher negra que tem traços indígenas e está envolvida por plantas medicinais e por poder. Na mão direita, o alecrim e a lavanda que significam alegria e calma; na esquerda, a dracena que é a força; na cabeça, marantas, que é a beleza; e, no ventre, a coragem representando toda essa força feminina”, explica a artista visual. Segundo ela, as empenas em grande tamanho são um presente da proporção da metrópole mineira. “Sinto-me completamente realizada por proporcionar algo dessa grandeza para a cidade.”
O projeto contou com o apoio da Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. “Ficamos orgulhosos de saber que um instrumento do município foi capaz de dar o pontapé inicial para um projeto como esse. E ele chega em um momento em que a Prefeitura quer estimular a cidade a ficar mais alegre e proporcionar um contato maior com a arte urbana para a população. Facilitamos o processo de licenciamento com a BHtrans, com o fechamento da rua Sapucaí, e trabalhamos na divulgação potencializando a informação de toda essa ação tão diferenciada e inédita. Tudo foi visto com bons olhos e esperamos que outros projetos como o CURA sejam feitos pela cidade”, afirma Simone Araújo, diretora de ação cultural da Fundação Municipal de Cultura (FMC).
Projeto Gentileza
A FMC vai incentivar a produção de projetos ligados às artes visuais. “A ideia é deixar a cidade mais poética, colorida e gentil. Muitas coisas do nosso cotidiano nos tiram a tranquilidade, e apreciar obras de arte nos leva à reflexão e faz os dias ficarem mais coloridos”, explica a diretora da FMC.