Belo Horizonte conta com 21 bibliotecas públicas municipais, localizadas nos centros culturais e centros de referência, espalhadas por toda a cidade que oferecem uma extensa agenda atividades. Os equipamentos oferecem, além de empréstimo de livros e apoio à pesquisa, atividades de promoção da leitura como oficinas, rodas de leitura, narrações de histórias, saraus, visitas guiadas, palestras, encontros de formação, cursos. Um dos destaques dessa extensa agenda é o projeto Formação de Mediadores de Leitura.
A rede de bibliotecas públicas municipais é encabeçada pela Biblioteca Pública Infantil e Juvenil, referência em leitura e formação de leitores na infância e juventude em todo o país. Os equipamentos são mantidos pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura. Segundo a gerente de Coordenação de Bibliotecas e Promoção da Leitura, Fabíola Farias, a formação de mediadores de leitura é uma das principais frentes de trabalho. “Todos os meses realizamos cursos, oficinas e palestras voltadas para professores, bibliotecários, agentes públicos e comunitários, tendo como tema a formação de leitores, especialmente de literatura”.
A atividade tem um lastro tão potente que originou, além das atividades elencadas, o Seminário Beagalê, já uma tradição na cidade, e que, em 2018, irá para sua 12ª edição. “Esse seminário é anual e surgiu da necessidade de formação continuada para os profissionais que trabalham nas bibliotecas da Fundação Municipal de Cultura”, explica Fabíola. A gerente cita como exemplos, a especificidade do atendimento a crianças muito pequenas; a oferta de textos literários; a valorização da ilustração nos livros; o diálogo da literatura com outras linguagens artísticas; a acessibilidade física e cultural nas bibliotecas; e, principalmente, a compreensão da participação na cultura escrita como direito da população. Todas as atividades são abertas ao público e contam com grande participação de professores, bibliotecários e auxiliares de biblioteca da Secretaria Municipal de Educação e de escolas da rede privada.
Segundo a gerente, o projeto cria um espaço de debate permanente sobre o tema e fortalece a política pública para leitura e escrita na cidade. “Mais que o "como fazer", trabalhamos na perspectiva do "por que fazer", para que nossas ações e proposições estejam sustentadas em um encontro de reflexão teórica e experiências práticas”.
Fabíola Farias destaca a continuidade do projeto. “Temos em nossas bibliotecas um excelente acervo bibliográfico voltado para esse tipo de formação, que permite o prolongamento das discussões e reflexões realizadas durante as atividades”. A gerente relembra, inclusive, que em setembro deste ano foi lançado, em parceria com o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o livro “As crianças e os livros: reflexões sobre a leitura na primeira infância”, que é um registro do 10º Seminário Beagalê, realizado em 2016.
Participação da comunidade
Participam do projeto professores, bibliotecários, auxiliares de bibliotecas, mediadores de leitura, agentes públicos e comunitários, estudantes universitários, escritores, ilustradores. A atividade é muito bem recebida pela comunidade e a procura por atividades de formação tem sido cada vez maior, especialmente, as que têm como tema a infância.
Uma dos entusiastas do projeto Formação de Mediadores de Leitura é a diretora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas Municipais de Minas Gerais, Cleide A. Fernandes. “Trabalhar com o incentivo à leitura é um grande desafio nas bibliotecas, sejam elas públicas, escolares ou comunitárias. A educação formal pode deixar lacunas que impedem os sujeitos de fruir plenamente os bens de leitura”.
A diretora ressalta a importância do trabalho do mediador: “A atuação do mediador de leitura é um caminho para preencher certas lacunas na medida em que este promove o encontro entre leitores e textos”. Cleide Fernandes explica que, para que o mediador tenha condições de desempenhar bem sua função, ele mesmo precisa fruir plenamente os bens de leitura e para isso é necessária constante formação, seja com técnicas específicas de mediação, seja ampliando o repertório de leitura, principalmente a literária. “Por isso as atividades de formação, como as realizadas pelas bibliotecas da Fundação Municipal de Cultura, são tão importantes."
Para Fabíola Farias, a grande exigência da formação, na perspectiva em que se trabalha na rede de bibliotecas da Fundação Municipal de Cultura, é refletir sobre a participação na cultura escrita como um instrumento para a compreensão e a organização do mundo a partir de vozes e interesses distintos. “As bibliotecas devem estar preparadas para lidar com narrativas múltiplas sobre uma mesma história ou fato; é essencial que as pessoas possam construir, a partir de um repertório ampliado e diverso, seu próprio entendimento do tempo e do espaço em que vivemos. A leitura e a escrita são práticas de poder que devem ser garantidas a toda a população", finaliza.