Dentre os jardins botânicos brasileiros, o da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte (FZB-BH) é pioneiro na utilização de tratamentos homeopáticos para o controle de pragas e doenças nos vegetais. Além de promover o desenvolvimento de pesquisas e incrementar os trabalhos relacionados aos cuidados com a saúde das plantas, a prática respeita e estimula os processos naturais de cura dos vegetais, animais e sistemas vivos.
Desde o início da utilização de preparados homeopáticos em plantas no Jardim Botânico da FZB-BH, em 2003, já foram alcançados surpreendentes resultados e avanços, muitos deles com o auxílio de trabalhadores voluntários, na maioria estudantes do curso de extensão “Ciência da Homeopatia”, da Universidade Federal de Viçosa (UFV). “Foram desenvolvidos dezenas de projetos e tratamentos homeopáticos de plantas. Alguns desses resultados, inclusive, foram apresentados em eventos nacionais e internacionais”, conta a engenheira agrônoma Marina Portugal Torres.
Além de auxiliar na recuperação das plantas e de melhorar as defesas naturais delas, o tratamento homeopático ainda tem os benefícios de ser não poluente e de baixo custo. A adoção dessa prática atende às normas legais que regem a produção orgânica no país (Lei 10.831, de 23 de dezembro de 2003, e a Instrução Normativa 64, de 18 de dezembro de 2008).
“Considerando que nossa missão institucional preconiza a preservação ambiental e o respeito à vida, seria uma incoerência o uso de agrotóxicos e de outras práticas poluentes. Além disso, tem baixo custo e foge da dependência dos conglomerados agroindustriais produtores de insumos. A homeopatia estimula o sistema de defesa dos organismos de modo que resistam às doenças, aos insetos-praga e aos impactos dos fatores climáticos ou ambientais, e promove o equilíbrio sem extinguir vírus, fungos, bactérias, insetos e outros tipos de agentes”, explica Marina.
Antônio Wilson de Oliveira Malta, engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e professor da UFV, com experiência na área de agricultura orgânica e agroecologia, manejo integrado de pragas e homeopatia vegetal, confirma os benefícios da utilização de práticas de homeopatia nos jardins botânicos. “Além de diminuir custos financeiros e riscos ambientais, contribui para a sanidade das plantas presentes, melhora o vigor vegetativo, acelera o crescimento e aumenta a tolerância a condições adversas.”
Segundo Antônio, que é instrutor do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) Minas, desde 1995, e já participou da elaboração de planos pedagógicos e cartilhas, a homeopatia, que tem base na Fitoterapia, é de domínio popular e, portanto, deve ser difundida para a população e pela saúde dessa mesma população. De acordo com ele, há importantes resultados positivos verificados com a utilização de homeopáticos, com relação ao tratamento de ferrugens, controle de pragas e restauração do vigor das plantas. “Por exemplo, aplicações de homeopático de mamão e homeopático de limão-taiti foram bem-sucedidas. As melhoras físicas observadas incluíram desde um verde mais intenso nas folhas em relação à coloração, maior brilho, até melhorias fisiológicas das plantas, maior vigor, o que pode ser observado a curto prazo e confirmado em um maior prazo de observação.”
Recentemente, o professor, que é membro da Comissão de Produção Orgânica de Minas Gerais (CPorg/MG), iniciou, com Marina, um trabalho no Jardim Botânico de BH que visa a avaliar o uso de preparados homeopáticos no controle do besouro metálico Euchroma gigantea, que está atacando seriamente exemplares de mungubas e paineiras na cidade. “Pelos resultados positivos aqui obtidos, como no controle do pulgão na couve, da mosca branca no dedaleiro, de manchas foliares na pitangueira, e tantos outros registrados na literatura, somados à vasta experiência do professor Antônio, esperamos contribuir também na solução desse grave problema”, relata Marina. Na opinião dela, as parcerias vêm ao encontro da intenção de incrementar e desenvolver as atividades de homeopatia e operacionalizar a Clínica Fitossanitária e Laboratório de Homeopatia Vegetal existentes no Jardim Botânico desde 2012.
Apesar do ceticismo e da desinformação de muitos críticos com relação à homeopatia, Marina ressalta que o papel dela, seja no cuidado com a saúde das plantas em um Jardim Botânico ou em uma transição agroecológica, deve ser fomentado, tanto na parte de pesquisa como nas políticas públicas para a produção agropecuária, florestal e de preservação ambiental. “Nesse sentido, urge que parcerias como essa, com o professor Antônio, bem como a estabelecida com o Centro de Valorização Tecnológica em Agroecologia e Produção Orgânica (CVT-GUAYI), que tem a participação da Universidade Federal de São João del-Rei – Campus Sete Lagoas, Embrapa Milho e Sorgo, Emater e Epamig, sejam incentivadas”, defende a engenheira agrônoma, que conclui: “Na FZB-BH, por meio do uso e divulgação dessa prática, podemos sensibilizar os visitantes sobre a produção orgânica e agroecológica e da importância desses sistemas de produção na conservação da biodiversidade e na preservação ambiental.”