Espaço dedicado à conservação e exposição de plantas, principalmente da flora regional, o Jardim Botânico da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte guarda valiosos acervos e curiosidades que merecem ser destacados. Um deles é a coleção etnobotânica, com peças de diferentes cidades de Minas Gerais e até mesmo de outros estados brasileiros, que apresentam registros da apropriação da diversidade vegetal pelo homem.
De acordo com a bióloga e curadora da coleção etnobotânica do Jardim Botânico, Inês Ribeiro, o acervo visa a valorizar a história do uso das plantas, bem como o conhecimento tradicional sobre elas, e, com isso, subsidiar a interpretação da botânica para o público em geral, apoiando a pesquisa, o ensino em biologia vegetal e a conservação dos recursos naturais. “Essa coleção possui amplo valor antropológico, documental e educativo”, afirma a bióloga.
Dentre as 141 peças que, atualmente, compõem a coleção etnobotânica do Jardim Botânico, estão utensílios, ferramentas, fibras, medicamentos, tecidos e outros artefatos feitos de matéria-prima vegetal. “A coleção iniciou-se com o projeto de implantação da estufa de Caatinga do Jardim Botânico, em 2003, quando foram adquiridos alguns artefatos do Norte e Nordeste de Minas. Em 2005, o Jardim Botânico participou do programa “Plantas do Futuro”, dando novo impulso à coleção etnobotânica”, conta Inês.
Essa coleção, assim como outras existentes no Jardim Botânico - as das estufas de Mata Atlântica, Campo Rupestre e Caatinga, por exemplo - são normalmente ampliadas e melhoradas, por meio de parcerias com instituições públicas e privadas e também com a contribuição de estudiosos. “A coleção pode receber doações de outros jardins botânicos, de comunidades locais e de profissionais da área. Para adquirir os primeiros produtos e compor o acervo existente hoje, técnicos do Jardim Botânico visitaram algumas comunidades e comerciantes locais,” acrescentou.
A bióloga Karin Kaechele também colaborou com a ampliação e enriquecimento dessa coleção. Depois de conhecer o acervo, nos anos de 2003 e 2004, quando trabalhou na instituição, Karin se encantou por ele e sempre que viajava e encontrava itens que podiam fazer parte da coleção, trazia. “De Brasília, trouxe um ímã de geladeira feito com semente da árvore bolsa-de-pastor; do Pará, um boto cor-de-rosa feito com látex de seringueira; e, do Maranhão, uma bolsa tiracolo feita com folha de buriti”, relata.
Para a bióloga, que atualmente trabalha no Banco Mundial como especialista de carbono florestal, a importância dessa coleção é mostrar “para a população que as plantas fazem parte do nosso dia a dia, sendo utilizadas na medicina, indústria têxtil, de alimentos, de bebidas; como combustível (carvão, lenha); em instrumentos musicais, papéis, brinquedos etc.)”, exemplifica.
Identidade sociocultural
Com atuação efetiva dentro da Rede Brasileira de Jardins Botânicos, o trabalho realizado em Belo Horizonte é reconhecido por profissionais que atuam na área em todo o Brasil. Para a curadora da coleção etnobotânica do herbário (RBetno) do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), Viviane Stern da Fonseca Kruel, a coleção de BH foi uma das primeiras que ela visitou. “Tenho enorme admiração pelo trabalho da equipe do JB de BH e, em especial, pela curadora Inês que investiu seu tempo, experiência e seus próprios recursos para iniciar a coleção”, ressalta.
De acordo com Viviane, que é pesquisadora em Etnobotânica, o estado de Minas Gerais é muito importante “tanto para a flora nacional, com o Cerrado, quanto por sua forte identidade sociocultural, com frutas e plantas medicinais típicas desse bioma, além do artesanato próprio, como utensílios de casa. Esses objetos, feitos com recursos vegetais nativos, precisam ser preservados e perpetuados para as próximas gerações. Como todos os demais acervos no Brasil, esta coleção precisa de mais incentivos e apoio para ser fortalecida e continuar existindo”, afirma.
Segundo Inês, no Brasil, além do Jardim Botânico de Belo Horizonte, são conhecidas as coleções e propostas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, do Museu Paraense Emílio Goeldi, do Jardim Botânico de São Paulo e do Jardim Botânico de Salvador. Já no exterior podem-se ressaltar algumas das maiores coleções etnobotânicas em termos mundiais: a do Royal Botanic Gardens, Kew, no Museum of Economic Botany, em Londres, que iniciou a coleção em 1847, e a Economic Botany Collection no Field Museum, em Chicago, EUA. Porém, são conhecidas muitas outras coleções no exterior, como no México e Colômbia.