Do vínculo entre a cultura popular e a comunidade surgiu o “Noite no Sertão”, no Centro Cultural Lindeia Regina, no bairro Regina, na região do Barreiro, em Belo Horizonte. Concebido em 2008, o projeto promove o encontro de cantores, sanfoneiros, violeiros e demais músicos que celebram a música caipira, fomentando uma vocação local.
Os encontros ocorrem sempre na última sexta-feira de cada mês, com uma média de público de 80 pessoas por noite e uma estrutura democrática: os músicos colocam os nomes em uma lista de participação e diversos artistas se revezam no palco.
José Davi Diniz trabalhou durante muitos anos como lavrador, mas atualmente se define como sanfoneiro e atende pelo nome artístico de Dedo Liso. Ele é um dos músicos que agitam o Noite no Sertão. “Eu tenho 70 anos e fico muito feliz, pois a partir do projeto já fui chamado para tocar a minha sanfona em outros lugares, já toquei até em quadrilha no Arraial de Belo Horizonte”, comemora Dedo Liso.
Nascido em Jequeri, na região da Zona da Mata, Geraldo Magela Pereira se mudou para Belo Horizonte trazendo uma extensa influência de música caipira. Hoje, aos 48 anos, ele tem um álbum gravado, lançado em 2010, por meio da Lei de Incentivo Municipal. Geraldo é mais conhecido como Jacarandá, cantor e violeiro da dupla Jacaré e Jacarandá. “Eu sou grato por esse espaço para os músicos sertanejos de raiz”, diz ele, satisfeito. “Uma das funções dos centros culturais da Prefeitura é servir de palco para os artistas locais. O projeto Noite no Sertão cumpre esse papel”, enfatiza Camila Goulart, há cinco anos à frente da gerência do Lindeia Regina.
Além do evento que ocorre mensalmente no espaço, Camila explica que os artistas são levados também para se apresentarem em outros centros culturais e em um asilo do bairro. “Além disso, forma-se aqui no centro cultural um núcleo de talentos e troca de experiências. Muitas duplas de música sertaneja se formaram a partir dos encontros do Noite no Sertão”, observa ela.
Euzira de Andrade, 57, não perde uma oportunidade de curtir o Noite no Sertão. Por meio do projeto ela conheceu artistas locais como Lucas Viola e a dupla Jacaré e Jacarandá. “Gosto muito do projeto porque as músicas me fazem lembrar da época em que eu morava no interior de Minas Gerais.”
Geralda Gomes, 72, é quem geralmente puxa a dança no Noite do Sertão, incentivando o público a bailar no salão. Ela é assídua não só nas noites de música. “Eu frequento o centro cultural também para a prática de Lian Gong (terapia chinesa) e estou sempre atenta às outras programações.”
Oficina de viola
Lucas Viana de Oliveira, mais conhecido como Lucas Viola, é metalúrgico e violeiro. Ele é descendente de uma família caipira que teve a musicalidade da viola passada de geração a geração. O avô e o pai eram violeiros. Agora, ele mesmo ensina o filho Joaquim, 7 anos, a tocar o instrumento.
Com a experiência familiar e o apoio do centro cultural, Lucas ampliou a atuação no ensino e a disseminação da viola caipira. “Há cerca de um ano e meio, comecei um projeto de aulas de viola. As turmas em que leciono deram origem a um grupo chamado Comitiva Tião Carreiro, que conta com 24 integrantes. Acho que a raiz sertaneja, do modo que existe aqui no Lindeia e região, não há em outro lugar em Belo Horizonte. A maioria dos moradores do Lindeia veio da roça. Este é um bairro que tem raízes caipiras e o sucesso do projeto Noite no Sertão e da oficina de viola é uma prova disso”, argumenta Lucas.
A esposa e a sobrinha
O Centro Cultural Lindeia Regina é um dos 17 centros culturais mantidos pela Fundação Municipal de Cultura e destaca-se como referência na região do Barreiro. Situado à rua Aristolino Basílio, 445, o equipamento foi aprovado no Orçamento Participativo em 2004, sendo inaugurado em junho de 2008.
Nessa época, uma pesquisa realizada pela PUC-MG constatou que os moradores dos bairros situados na área de influência do centro cultural tinham grande musicalidade, no que diz respeito às raízes da música popular mineira. Esses moradores, muitos vindos do interior de Minas Gerais, preservam tradições musicais como a viola caipira e a canção sertaneja.
Já na década de 1970, diversas atividades culturais populares eram desenvolvidas na região. Entre as que fizeram história está o Festival de Música do Lindeia e as feiras de cultura popular. Além disso, a localidade deu origem a quadrilhas juninas, guardas de congado e grupos de capoeira.
A própria origem territorial da região tem ligação com a cultura interiorana, pois as terras, cujo parcelamento formou os bairros Lindeia e Regina, pertenciam a uma grande fazenda. O professor universitário e neurologista Washington Pires, morto em 1970, era o antigo proprietário dessas terras. Lindeia era o nome da esposa e Regina, da sobrinha - nomes que batizam os bairros.
O Centro Cultural Lindeia Regina atende também à população de outros bairros próximos, como Durval de Barros, Tirol, Jatobá e Washington Pires. E, além disso, a atuação do centro cultural tem extrapolado os limites intermunicipais, pois o espaço é influente na região situada entre a Cidade Industrial (no município de Contagem), a BR-381, a linha férrea do Barreiro e o município de Ibirité.
Serviço
Projeto “Noite no Sertão” – toda última sexta-feira do mês.
Centro Cultural Lindeia Regina - Rua Aristolino Basílio, 445, Bairro Regina.
Fones: 3277-1515 / 3277-1547.
Email: cclr.fmc@pbh.gov.br
Ônibus: 1270, 1110, 1760 e 335
Funcionamento: de terça a sexta, das 8h às 20h; aos sábados, das 13h às 17h.