“O isolamento não resolve, a exclusão é pior ainda. O caminho é a liberdade, o acolhimento adequado e o cuidado integral no próprio território”. Com essas palavras, a psicóloga Soraia Marcos define a política de atuação do Centro de Referência em Saúde Mental Infantil (Cersami) Nordeste, equipamento responsável pelo atendimento psiquiátrico a crianças e adolescentes em casos de urgência e crise por uso abusivo de álcool e/ou outras drogas. Ela integra a equipe de profissionais que atua na unidade.
Inaugurado em dezembro do ano passado, O Cersami Nordeste (Praça Muqui, 191, Renascença) funciona das 7h às 19h e acolhe também a demanda das regiões Norte e Venda Nova. Possui uma equipe formada por cinco psicólogos, três médicos psiquiatras e um pediatra, além de três terapeutas ocupacionais, três enfermeiros, dois assistentes sociais, uma farmacêutica, 21 técnicos de enfermagem, um oficineiro de artes, uma redutora de danos e o pessoal administrativo.
A demanda surge de forma espontânea ou por encaminhamento dos serviços de saúde, da educação, do social, do Conselho Tutelar e até mesmo por decisão judicial. Quando a criança ou o jovem chega ao Cersami, ele passa pelo acolhimento e avaliação para definição da modalidade de tratamento mais adequada: permanência somente durante o dia, atendimento apenas ambulatorial ou necessidade também da hospitalidade noturna. Neste último caso, o paciente passa o dia na unidade Nordeste e, à noite, é levado para o Cersami Noroeste, onde recebe assistência noturna. A partir do próximo semestre, o Centro de Referência em Saúde Mental Infantil Nordeste também passará a funcionar 24 horas.
O trabalho envolve muita dedicação e as ações diárias são compartilhadas e integradas com as políticas públicas de forma intersetorial. Para Ana Cristina Torga Saade, gerente do Cersami Nordeste, a unidade consegue acolher de forma efetiva o paciente e o tratamento apresenta resultados muito positivos. “Recebemos adolescentes em condições das mais diversas possíveis, em situação de rua, sem vínculo familiar, recluso, casos graves de psicose, entre tantas outras situações. Mas o acolhimento aqui é efetivo e logo percebemos os bons resultados. Respeitamos a história e o tempo de cada um e toda a equipe se une para fazer a diferença na vida desses jovens e famílias”, ressalta Ana Cristina. Atualmente, o serviço presta assistência para 216 crianças e adolescentes.
Neusa Mendes, de 55 anos, é mãe de um dos assistidos e fala da satisfação pelo serviço. “No Cersami, o meu filho tem o tratamento adequado e integral, ele tem o remédio que precisa e muito mais que isso, ele se sente feliz e participa das atividades. Fico em casa tranquila com o tempo que ele passa aqui e já percebo avanços significativos no tratamento dele”, diz Neusa.
Oficinas e outras atividades
As oficinas de arte, as festas de aniversário e os eventos de datas comemorativas fazem parte do cuidado integral. “As oficinas cumprem um papel muito importante nos serviços de saúde. É uma satisfação, pois conseguimos envolver em atividades de arte e artesanato crianças e adolescentes em estado psiquiátrico grave. Por meio das artes, eles desenvolvem inúmeras habilidades e encontram nessas atividades novas formas de contentamento”, enfatiza Filipe Aredes, oficineiro de artes do Cersami Nordeste.
Ezequiel (nome fictício) é um dos adolescentes que recebem os cuidados do Cersami Nordeste. A trajetória dele de vida é árdua, mas o Cersami tornou-se um lugar que faz a diferença: “Gosto de ficar aqui nesta casa (Cersami), participar das oficinas e ser cuidado pelas pessoas que trabalham aqui. Tenho comida, carinho e até uma festa de aniversário eu tive.”
Atendimento nas outras regiões
Além do Cersami Nordeste, que absorve a demanda das regiões Nordeste, Norte e Venda Nova, há também o Cersami Noroeste, que atende ao público infantojuvenil da Noroeste, Pampulha e Oeste. Já nas regiões Centro-Sul, Barreiro e Leste, o acolhimento das demandas é feito pelo Centro Psíquico da Adolescência e da Infância (Cepai), da Rede Fhemig.
Modelo para equipe de GV
O Centro de Referência em Saúde Mental Infantil Nordeste recebeu em 30 de junho uma equipe do Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Caps-i) da cidade de Governador Valadares, Leste de Minas Gerais. O Caps-i quer implantar a modalidade de atendimento “permanência dia” e veio conhecer a experiência da Prefeitura de Belo Horizonte. “Estou encantada com a organização do fluxo, as articulações com a rede de serviços municipais e com a forma afetuosa de acolhimento aos pacientes”, disse a psicóloga do Caps-i, Maria Teresa Ale Alvarenga.
Para a técnica de enfermagem Elenita Miranda, também integrante da equipe, a visita foi produtiva e muitas experiências boas servirão de modelo para implementação do serviço em Governador Valadares. “A intersetorialidade entre os serviços e as diversas áreas parece ser uma prática já consolidada aqui em Belo Horizonte e isso é muito importante, pois garante, além da inclusão, o tratamento efetivo dos pacientes”, observa Elenita.