“Tire seu preconceito do caminho que eu quero passar com minha cor”. A frase que abre a exposição “Vivendo a diversidade”, produzida pelas crianças da Unidade Municipal de Educação Infantil (UMEI) Nova Iorque, da região de Venda Nova, é uma paráfrase dos versos de abertura da canção “A Flor e o Espinho”, de Nelson Cavaquinho.
São telas, colagens, pinturas e desenhos expostos nas escadas e no hall do gabinete da Coordenadoria de Administração Regional Venda Nova. Proposto como projeto institucional da unidade, o projeto foi desenvolvido ao longo do ano.
Os trabalhos foram produzidos por todas as crianças de zero a 6 anos da UMEI Nova Iorque. A exposição fica em cartaz até o fim desta semana na sede da Regional Venda Nova (rua Érico Veríssimo 1428, Venda Nova). A finalidade das obras foi trabalhar nas crianças os valores e o respeito à diferença, visando a desenvolver atitudes de valorização e respeito à cultura negra e indígena, e à sua descendência, cultura e história.
Ensinando a amar o diferente
Coordenadora pedagógica da UMEI Nova Iorque, Lilian Leodoro explica que cada turma trabalhou livros adotados pela Rede Municipal de Ensino sobre a temática afrodescendente, como Chico Jubá, O cabelo de Lelé, Menina bonita do laço de fita, entre outros.
As turmas receberam nomes significativos para a cultura africana e indígena, como a expressão “Sawabona Shikoba”. A primeira palavra é um cumprimento usado no sul da África, que quer dizer "eu te respeito, eu te valorizo, você é importante pra mim". Em resposta, as pessoas dizem “shikoba”, que significa "então eu existo pra você”. As duas palavras querem dizer que todos somos um.
“Como disse Nelson Mandela, ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar. Esse projeto possibilita às crianças compreenderem que elas precisam respeitar e também sentir-se respeitadas e acolhidas, independentemente de sua etnia ou religião, tanto no ambiente escolar quanto no seu dia-a-dia, porque as diferenças fazem parte da história da humanidade e não devem significar inferioridade”, diz Lilian Leodoro.
Cabelos e heranças
De março a dezembro, as crianças da turma Apoena, nome indígena tupi-guarani, trabalharam com o livro “O cabelo de Lelê”, da escritora Valéria Belém. A professora Fernanda Novais avalia que o trabalho proporcionou a reflexão sobre as diferenças que existem entre elas, despertando o senso estético e contribuindo para a construção de uma identidade positiva da beleza negra. Ao final, eles produziram uma tela e quadros individuais e cada criança fez a releitura da história, escolhendo o penteado com que mais se identificasse.
Fernanda conta que muitas crianças se emocionaram ao final do livro, pois se reconheceram na história e perceberam sua herança genética. A aluna Maria Morena, de 5 anos, conta que gostou muito do livro. “A parte que mais gostei foi onde fala que cada pedacinho do cabelo tem um pedaço da sua história. Escolhi o cabelo de coque porque achei muito bonito, parece a minha prima. Ela é linda! Tipo a Lelê, e tem cabelo cacheado igual ao meu.”
Brinquedos e brincadeiras
Com o princípio de valorização da cultura, a UMEI Mantiqueira também resolveu expor, no hall do gabinete da Regional Venda Nova, os quadros produzidos pelas crianças.
A exposição de pinturas em tela foi resultado do projeto institucional Brinquedos e Brincadeiras, produzido ao longo do ano letivo e que teve como objetivo o resgate de brincadeiras tradicionais de cultura brasileira e de outros locais.
O projeto foi desenvolvido por 398 crianças de zero a 5 anos. A diretora da UMEI Mantiqueira, Roberta Melo, avalia que o trabalho auxiliou no desenvolvimento das crianças em diversos aspectos, como coordenação motora, socialização, oralidade e escrita. “Incomodava muito o fato de os materiais produzidos para as feiras de cultura, no final, virar lixo. Então sugerimos essa mostra cultural. Assim, além da arte não ser descartada, introduzimos outras pessoas neste universo.”