Aos 68 anos, Arabela Gonçalves faz mágica com as mãos. É de sua habilidade com a máquina de costura que saem algumas das mais brilhantes e originais fantasias do Carnaval de Belo Horizonte. Dona Bela, como é conhecida, é uma das fundadoras da Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos de Venda Nova, pentacampeã do Carnaval de Belo Horizonte.
Apesar do primeiro contato com o Carnaval ter sido aos 15 anos, quando assistiu a um desfile na avenida Afonso Pena, até os 30 anos não interagiu com a festa. Mas bastou o primogênito dos seus cinco filhos, Marco Aurélio, carnavalesco da escola (na época com 16 anos), fazer o convite para que ela confeccionasse fantasias que seriam usadas na extinta Escola Mocidade Independente de Venda Nova, para despertar a verve do samba em seu sangue. E mesmo quando a agremiação de seu bairro acabou dona Bela não se deu por satisfeita e passou a confeccionar fantasias de luxo para clubes da capital e de cidades do interior.
Em 2005, durante uma reunião na casa da família Gonçalves, no bairro São João Batista, e com o apoio de vizinhos e amigos, dona Bela, seus filhos Janaína, Marco, Ricardo e Francisco (atual presidente da agremiação), além da sua irmã Adélia, fundaram o Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos de Venda Nova. E foi aí que dona Bela fez a sua estreia entre as grandes escolas de samba da capital.
“No momento do ressurgimento das escolas de samba de Belo Horizonte, os Acadêmicos de Venda Nova nasceram das cinzas da festa, como uma mitológica Fênix, representando a renovação, tradição e a comunidade acolhedora da região de Venda Nova” revela a costureira.
Agora, em 2018, empenhada na conquista do sexto troféu, em que a escola traz o enredo “Sou Pampulha, Sou Carnaval, Sou Patrimônio da Cultura Mundial”, dona Bela juntamente com o filho Marco Aurélio, buscou inspiração em Oscar Niemeyer. No galpão, localizado no bairro São João Batista, onde trabalham 80 pessoas (entre elas 60 voluntários) o barulho das máquinas de costuras quase forma um samba. “Nossa tradição é ser 100% original. Tudo é feito com material daqui de Minas Gerais”, comenta Francisco Gonçalves, presidente da agremiação.
Este ano a escola vai desfilar com 100 componentes a mais em um total de 700 participantes. Serão cinco carros alegóricos decorados com muita criatividade e empenho de pessoas que amam o carnaval e torcem não somente pelo primeiro lugar, mas para que o Carnaval de Belo Horizonte se torne cada vez mais conhecido além-fronteiras.
Um pouco da história da Escola
Em 2017 a escola de samba Acadêmicos de Venda Nova levou para as ruas um desfile seguindo o enredo “Sonhos de Toninho Veterinário, o Mestre-Sala dos Animais”. Foi uma homenagem aos veterinários na figura de João Antônio Teixeira, que tem uma clínica na capital mineira e faz, por ano, cerca de 90 mil atendimentos a pequenos animais.
Esse foi o quinto título da Acadêmicos de Venda Nova, que também venceu em 2008, 2009, 2014 e 2015. Nos anos de 2005, 2006, 2010, 2013 e 2016 conquistou a vice-liderança e em 2012 o terceiro lugar. Junto à comunidade onde está localizada sua sede, a agremiação desenvolve oficinas de maquiagem, artesanato, dança, corte e costura, percussão, artesanato e artes manuais. A escola procura em todos os seus desfiles utilizar materiais originais e de origem mineira, mantendo as tradições.
Carnaval de Belo Horizonte 2018
O Carnaval de Belo Horizonte, que acontece oficialmente do dia 27 de janeiro a 18 de fevereiro, se tornou um dos mais surpreendentes do país. Para este ano, a expectativa é de 3,6 milhões de foliões, 20% a mais que em 2017. Serão cerca de 480 blocos de rua com 550 desfiles.
Entre as novidades estão os sete palcos oficiais distribuídos entre as regionais, descentralizando ainda mais a programação na cidade. Além disso, melhorias estruturais acontecerão na avenida Afonso Pena para o desfile das escolas de samba e blocos caricatos. Pela primeira vez na história da cidade, a avenida será pintada de branco para valorizar as fantasias e adereços, assim como acontece nos sambódromos. No local será instalado ainda um cronômetro para contar o tempo dos desfiles.