Um projeto cinematográfico gratuito e todo dedicado às mulheres, no qual são exibidos filmes dirigidos por elas e cujo protagonismo feminino se dá nos sets, na crítica, na indústria, nas mesas e nas telas. Estamos falando do Cineclube Aranha, uma atração regular do Museu de Imagem e Som (MIS) Cine Santa Tereza, em Belo Horizonte.
O Cineclube Aranha é uma sessão comentada de filmes feitos por mulheres que acontece sempre na segunda terça-feira de cada mês, no MIS Cine Santa Tereza, equipamento da Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura, no âmbito do projeto de exibição permanente chamado "Terça comentada."
Segundo Ana Amélia Lage Martins, gerente do MIS Cine Santa Tereza, trata-se de uma iniciativa de jovens mulheres ligadas ao cinema em Belo Horizonte que, desde agosto de 2016, reúnem-se no MIS Cine Santa Tereza para exibição de filmes dirigidos por mulheres, a partir dos quais discutem, além de questões relacionadas à arte e linguagem cinematográfica, o protagonismo feminino.
Ana Amélia ressalta que a curadoria se dá em um revezamento entre essas coordenadoras. A cada mês uma fica responsável pela escolha do filme e produção da sessão, em conjunto com o MIS Cine Santa Tereza. Uma delas é Mariah Soares, de 26 anos, moradora do bairro funcionários. "O Cineclube Aranha, há um ano, existe como um movimento de resistência para tornar o cinema um ambiente menos hostil para as mulheres. É sintomática a dificuldade para encontrar uma janela de exibição para os filmes dirigidos por mulheres, e a exibição em um cinema de rua é fundamental para a difusão dessas obras. Exibimos, em média, 14 filmes, alguns inéditos em Belo Horizonte, e conseguimos resistir à falta de fomento graças à parceria com o MIS."
Gabriela Albuquerque, 22, moradora do Centro, é outra curadora. "No Cineclube Aranha, primeiro como espectadora e depois como parte da equipe, eu tive a possibilidade de conhecer diretoras e filmes que raramente são vistos devido à falta de visibilidade e de acesso das mulheres ao meio cinematográfico”, afirma Gabriela, que chama atenção para os debates que acontecem após a exibição. “Outra coisa interessante é como as mulheres se sentem à vontade ao se expressar nos debates que propomos após as sessões. Isso, infelizmente, ainda é muito raro. A criação de espaços como o Cineclube Aranha é essencial para impulsionar uma reflexão sobre a perspectiva e sobre a presença feminina no cinema e no meio artístico em geral."
Segundo Ana Amélia, o objetivo do Cineclube Aranha é dar visibilidade às produções cinematográficas realizadas por mulheres de diferentes partes do mundo, discutir a representação das mulheres no cinema, além de tratar, através do audiovisual, de temas históricos das pautas feministas. “Os encontros buscam também incentivar a capacitação técnica de mulheres e, consequentemente, a formação de uma rede de contatos que facilite a inserção destas nas funções mais vitais do fazer cinematográfico.”
Programação regular e gratuita
Desde 2016 foram realizadas 12 edições, que exibiram filmes de Agnès Varda, Chantal Akerman, Maria Clara Escobar, Lucrecia Martel, Ida Lupino, Samira Makhmalbaf, Moufida Tlatli, Kira Muratova, Claire Denis, Barbara Hammer e Trinh T. Minh-ha, dentre outras.
O Cineclube Aranha tem uma média de público de 80 pessoas por sessão e é muito bem recebido tanto por participantes quanto pelo público. Helena Vannucci, 23, moradora do bairro Santa Tereza, é diretora de arte e descobriu o MIS Cine Santa Tereza pelo projeto. "Frequento o bairro Santa Tereza há mais ou menos sete anos e, no início de 2016, mudei-me para cá. Acompanho a programação do Cineclube Aranha desde a primeira exibição e confesso que foi ele que me levou ao MIS Santa Tereza.” Helena tornou-se uma das entusiastas da atração. “Considero de extrema importância a abertura do MIS ao receber esse projeto, que traz uma força e resistência feminina em um meio tão dominado por homens, apresentando-nos sempre obras feitas por mulheres, geralmente de pouca visibilidade nos circuitos convencionais, além de abrir espaço para a discussão e questionamento das tradicionais formas de produção cinematográficas."
Carolina Macedo, 36, jornalista e pesquisadora, residente no bairro Cruzeiro, também é outra que aprova o projeto. "Há cerca de um ano conheci o Cineclube Aranha. Foi a primeira vez que fui a uma sessão no então reaberto Cine Santa Tereza e é o motivo pelo qual retorno ao espaço, ao menos uma vez por mês”. Carolina destaca a curadoria e a possibilidade de acesso. “Não reconheço nada semelhante em outros espaços de exibição – comerciais ou não –, seja pela escolha dos filmes que joga luz ao trabalho de realizadoras, mas, especialmente, pela regularidade de exibição, pela gratuidade e, mais ainda, por ser um espaço de escuta a outras mulheres que realizam e pensam o cinema. Além de um encontro super prazeroso, faz jus à história e à memória das mulheres, dentro e fora das telas.
"Tatiana Carvalho Costa, 42, professora do Instituto de Comunicação e Artes da UMA, já participou do projeto nas duas esferas, como debatedora e como público. “O Cineclube Aranha tem um papel importantíssimo; não são apenas filmes feitos por mulheres, são filmes feitos por quem pensa a condição de ser mulher na sociedade, na História e no próprio cinema. São excelentes provocações, com espaço para elaboração com o público, conduzidas sempre de uma maneira muito generosa. Vida longa ao Cineclube Aranha!”
Ana Amélia Lage Martins ressalta o alcance do projeto. "O Cineclube Aranha é, assim como outras iniciativas que conferem espaço para os discursos, as narrativas e a produção artística de mulheres, de extrema importância não apenas por oferecer ao público produções cinematográficas de diferentes lugares do mundo e de grande valor estético e histórico, mas por suscitar a discussão necessária e sempre urgente sobre a participação das mulheres no cinema, sobre as lutas dos movimentos feministas e por destacar e resgatar obras que não encontraram lugar de circulação no circuito cinematográfico predominantemente masculino.” A gerente destaca ainda as diferentes temáticas e matizes apresentados. “Além disso, considero de grande relevância as temáticas trazidas pelos filmes que abordam, na maioria das vezes, experiências diversas de mulheres que não estão localizadas na hegemonia branca, ocidental e heterossexual, através de um olhar interseccional que integra perspectivas de classe, raça e orientação sexual."
Serviço
MIS Cine Santa Tereza
Endereço: Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza. Telefone: (31) 3277-4699. O Cineclube Aranha acontece sempre na segunda terça-feira de cada mês, com entrada gratuita.