Portadores de sofrimento mental conquistam o mercado formal de trabalho por um projeto pioneiro executado no SUS-BH. A iniciativa, parceria da Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Coordenação de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), Ministério do Trabalho (MTE) e Senac, beneficia 80 pessoas em BH.
Se no passado esses cidadãos levavam uma vida improdutiva, atualmente vivenciam experiências de trabalho e reinserção na sociedade. São capacitados e estão ativamente atuando como funcionários do Supermercado Verde Mar.
É o caso do repositor Alan Felipe Pacheco, 30 anos, usuário do Centro de Convivência Carlos Prates (rua Manhumirim, 415 Carlos Prates), que viu sua vida mudar para a melhor ao ser inserido no mercado de trabalho. “A minha saúde em geral melhorou 85%. Dos 145 kg que tinha antes, perdi 50. A quantidade de medicamentos também reduziu de 10 para dois. Trabalhar para mim é uma terapia ocupacional. Me sinto digno de voltar ao mercado de trabalho”, diz orgulhoso das conquistas. Alan Felipe retomou os estudos e faz planos de fazer um curso superior em teologia.
A primeira oportunidade de trabalho também chegou para a Vanir Pedrosa Ribeiro, 51 anos. Há dez anos, quando perdeu a mãe, ela desenvolveu um quadro de depressão. O Centro de Convivência César Campos ofereceu uma oportunidade e, hoje, após dois anos, Vanir está recuperada e trabalhando no setor de pedidos de café da manhã da padaria do supermercado. Ela reconhece que superou preconceitos. “Eu gosto do que faço e de trabalhar aqui porque, desde que cheguei, as pessoas me entenderam”, declara com um sorriso no rosto.
A supervisora Geane Aparecida de Souza acompanhou de perto toda a evolução da Vanir desde o treinamento e aprova a competência da funcionária. “Ela tem bom desempenho em todas as atividades. Se está com a lista de pedidos cobra cada item com os responsáveis, para que tudo saia no prazo certo. Ela se dedica em tudo que faz”, afirma.
A gerente do Centro de Convivência Arthur Bispo do Rosário, Karen Zacché, explica como é feita a seleção na rotina dos centros de convivência. “O critério é que a pessoa esteja frequente em um dos nove centros de convivência. Fazemos uma sondagem, divulgamos, buscamos quem se interessa. Eles são encaminhados para a empresa e começam a fazer o curso”, explica.
Durante o treinamento, os usuários contratados recebem meio salário mínimo, vale-transporte, carteira assinada, plano de saúde, seguro de vida e alimentação gratuita. O curso tem carga horária de 4 horas diárias, todos os dias da semana. As aulas teóricas são realizadas no Senac e a aula prática, no supermercado. Os novos profissionais desempenham funções de atendente de padaria na rotisseria e trabalham na preparação de patês, sanduíches, doces e manipulação de alimentos.
O superintendente de Recursos Humanos do Verdemar, Leandro Souza Pinho, explica que essa parceria entre a empresa e o trabalhador é garantia de sucesso. “Quanto mais a empresa aderir, melhor para ambos, a inclusão humaniza a empresa, traz valores aos negócios e coloca no mercado de trabalho um grupo estigmatizado pela sociedade por preconceito. O trabalho auxilia o sujeito a se emancipar e ajuda o seu tratamento”, ressalta.