Com 1.850 metros quadrados, o Jardim das Palmeiras é um recanto dentro do Jardim Botânico da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte. Nele estão plantadas 35 espécies de palmeiras nativas do Brasil ou naturalizadas (aquelas que se adaptaram perfeitamente ao nosso país), entre as quais podem ser citadas a macaúba, a pupunha, a piaçava, o jerivá, o butiá azedo, a juçara, a cariota-de-espinho, o marajá, o coco da Bahia, o dendê-do-pará, o dendezeiro e a jacitara.
Um dos sete jardins que fazem parte do Jardim Botânico, o das palmeiras foi idealizado com o objetivo de, em uma área restrita, “dar destaque às várias espécies de palmeiras brasileiras, cujos valores estético e alimentício ainda são pouco divulgados, apesar de as plantas serem conhecidas e valorizadas por viveiristas e colecionadores de todo o mundo”, como explica a bióloga do Jardim Botânico da FZB-BH, Maria Guadalupe Carvalho.
Esse cenário no qual predominam o verde e a tranquilidade é especial para piqueniques e a contemplação da natureza. O jardim guarda uma amostra de verdadeiros tesouros da botânica que merecem ser conhecidos e também estudados. Conforme afirma Maria Guadalupe, as palmeiras pertencem à família Arecaceae e possuem uma grande diversidade de formas, com características que diferenciam cada espécie.
Algumas dessas características são marcantes, como os troncos que podem ser lisos, revestidos de espinhos ou cobertos pela base remanescente das folhas, finos ou espessos; as folhas, que podem ser enormes (as maiores do reino vegetal), podendo ter a forma de leque, de rabo de peixe, ou pinadas (tipo pena), lisas ou com espinhos; os frutos, pequeninos ou grandes, globosos, ovalados, cônicos ou alongados, e as flores hermafroditas (com o órgão masculino e feminino na mesma flor) ou unissexuadas.
Todos esses detalhes são importantes para a identificação das espécies, principalmente depois da observação atenta dos especialistas. Já para os leigos é até fácil reconhecer as palmeiras como aquelas plantas imponentes que fazem parte do imaginário tropical, de lugares nos quais é possível descansar em uma rede enquanto se ouve o som melodioso do vento entre as folhas.
“Interessante esclarecer que as palmeiras fazem parte do grande grupo das monocotiledôneas, no qual também se encontram as gramíneas, orquídeas e bromélias. Isso demonstra a diversidade e a riqueza com que o mundo vegetal nos presenteia”, destaca a bióloga.
Em todo mundo existem cerca de 2.500 espécies de palmeiras, com ocorrência em diversos ecossistemas, como as tamareiras em ambientes áridos, os buritis em áreas totalmente alagadas. Ou ainda os palmitos, nas matas tropicais e os licuris no Cerrado. Essas discrepâncias de ambientes revelam o grande poder de adaptação dessas plantas que, em todo o mundo, apresentam-se como fonte de muitos recursos naturais e econômicos para diversas populações.
Aliás, poucas plantas são tão valiosas para o homem quanto as palmeiras. Além da beleza, que as torna um elemento paisagístico incomparável, e da relevância ecológica (para a sobrevivência de diversas espécies de animais), do ponto de vista sociocultural e etnográfico, o uso dessas plantas é extremamente reconhecido. Isso porque as palmeiras são geralmente exploradas ou cultivadas pela utilidade de sua madeira, de suas folhas, ou ainda são usadas em coberturas de moradias e em outras obras e objetos. Isso sem falar no aproveitamento de frutos comestíveis, como é o caso do saboroso e energético açaí – ou da extração de óleo para a indústria alimentícia, farmacêutica e de cosméticos.
E é exatamente por esse uso em grande escala, muitas vezes sem a preocupação com a sustentabilidade, que pode fazer com que várias espécies estejam ameaçadas de extinção. Aqui no Brasil, o caso mais emblemático parece ser o da palmeira juçara, da qual se extrai o tão apreciado palmito. O corte do único tronco da palmeira para a retirada do palmito traz um risco evidente para a existência da espécie. A alternativa tem sido a utilização do palmito da pupunha e do açaizeiro (ou açaí), espécies da Amazônia, que possuem mais de um tronco e que podem ser manejadas de modo mais adequado.
A tradição e o uso indígena
Historicamente, as palmeiras cumprem um papel de destaque, já que delas se aproveita praticamente tudo. A própria origem do nome de inúmeras espécies revela a relevância dessas plantas na cultura indígena, ao permitir que comunidades inteiras, ao longo de muitas gerações, sobrevivessem e, ainda hoje, sobrevivam graças a todos os recursos proporcionados por elas.
No livro Viagem pela História do Brasil - Primeiros encontros ( ... - 1549), organizado por Jorge Caldeira, há uma descrição sobre a dimensão do emprego das palmeiras pelos índios da floresta tropical quando os portugueses se assenhoravam das terras brasileiras.
De acordo com o texto, das palmeiras tudo era aproveitado. “Delas se extraía madeira para a construção das casas, fibras para vestimentas, ornamentos, redes e apetrechos de pescaria, goma para fazer pão, seiva para o vinho, frutos para comer, polvilho, sal – e das folhas se faziam cestos. Ao todo, domesticaram cerca de vinte espécies de palmeiras para os mais variados fins.”
O trecho reafirma a condição do Brasil como sendo o “Pindorama” (a terra das palmeiras), lugar mítico dos povos tupis-guaranis e que séculos depois foi eternizado por Gonçalves Dias na Canção do Exílio. “Minha terra tem palmeiras/onde canta o sabiá/ as aves que aqui gorjeiam/não gorjeiam como lá.”
Vale a pena visitar o Jardim das Palmeiras do Jardim Botânico para usufruir um pouco do poder que essas plantas têm de encantar.
Serviço:
O Jardim de Palmeiras da Fundação Zoo-Botânica de BH está localizado no Jardim Botânico. (Av. Otacílio Negrão de Lima, 8000, Pampulha).
Aberto para visitação aos sábados e domingos, das 8h às 17h (com entrada até as 16h).
Entrada: sábado - R$5 / Domingo e feriado - R$8
O pagamento da entrada do veículo é cobrado a parte.